Apetecia-me ir-me embora, mas não para um sítio específico, ir simplesmente, em linha recta, até passar tempo suficiente para que renasça em mim a vontade de regressar e que no meu regresso as coisas possam estar tão diferentes, tão mudadas, que o percurso de volta já não seja o mesmo mas um outro e que já não esteja ninguém à minha espera, para eu poder renascer no mesmo lugar de sempre, que é como quem diz apetecia-me mudar de pele, viver outra vida que não a minha, que é como quem diz apetecia-me que o tempo que passou não tivesse passado e que as coisas que vivi não tivessem acontecido, ou melhor, que tivessem acontecido na mesma mas só aos outros e não a mim, que é como quem diz apetecia-me não ter memórias, esquecer-me das coisas todas que já fui, das pessoas todas com quem já me cruzei, que é como quem diz apetecia-me ser mas não ser, deixar de ter peso e volume, que é como quem diz apetecia-me morrer, mas não morrer a sério, não que o meu coração parasse, que o sopro da vida se me apagasse num último suspiro, não, apenas descansar, desligar, deixar de pensar em coisas, simplesmente ser, como os bichos.
21 de julho de 2010
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