26 de fevereiro de 2011

Eu fico com o que não está escrito

Esta noite sonhei que estava numa sala de jantar cheia de pessoas, sentadas a comer numa grande mesa. O ambiente era festivo mas eu sentia alguma estranheza em relação a todas as pessoas, como se tivesse acabado de chegar de uma viagem de muitos anos. Uma mulher alta como uma deusa, morena e com grandes olhos verdes levantou-se da cabeceira da mesa e veio abraçar-me. Perguntou-me então porque é que eu amo tanto a natureza, porque é que me entusiasmo tanto com pequenos detalhes nas conchas da praia e nas sementes que caem das árvores, com os animais todos, dos grandes mamíferos aos pequenos insectos, com a luz do sol ou o azul do céu. Respondi-lhe que é assim porque para mim a natureza é Deus e assim O posso amar em todas as coisas, pequenas e grandes, que me rodeiam. Ela abriu as mãos, cobriu-me o rosto e disse-me que ficava muito feliz por saber que eu tinha percebido isso, que é assim mesmo.

“-Ein Sof? – pergunta o frade, aludindo ao conceito cabalístico de um Deus incognoscível que não possui quaisquer atributos reconhecíveis. E vendo o meu assentimento, continua: - É pouco o conforto de um Deus que está para além de todas as coisas.
- Ah, conforto... Para isso, meu caro amigo, o que preciso é de uma mulher que se deite à noite comigo e filhos para abraçar, não um Deus. Pode ficar com o Senhor escrito nas páginas do Velho e do Novo Testamento para si. Eu fico com o que não está escrito.”

O último Cabalista de Lisboa, Richard Zimler

20 de fevereiro de 2011

1 de fevereiro de 2011

Um sonho