«Não acha que eu compreendo? O impotente sonho de ser. Não de parecer, mas ser. Consciente em cada momento. Vigilante. Ao mesmo tempo o abismo entre o que és para os outros e para ti próprio. O sentimento de vertigem e o desejo final de estar finalmente exposto. De ser visto através, cada gesto uma falsidade, cada sorriso um esgar. Cometer suicídio? Oh, não! É horrível. Não se faz isso. Mas pode ficar imóvel, em silêncio. Pelo menos não mente. Pode fechar-se dentro ou fora. Então não terá de representar, mostrar qualquer rosto ou fazer gestos falsos. Pensa que... Sabe... a realidade não é cooperante. O seu esconderijo não é estanque. A vida infiltra-se por todo o lado. Você é forçada a reagir. Ninguém pergunta se é real ou irreal, se é verdadeiro ou falso. É só no teatro que a questão tem peso. Até mesmo poucas vezes. Compreendo-a Elisabet. Compreendo o seu silêncio, a sua imobilidade. Que tenha colocado esta falta de vontade num sistema imaginário. Compreendo e admiro-a. Acho que devia manter essa representação até estar esgotada, até já não ter interesse. Depois pode abandoná-la. Tal como, pouco a pouco, deixa todos os outros papéis»
29 de maio de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário