Tudo à minha volta padece de males de amor, tudo se ressente de discussões, desilusões, separações, saudades, ausências... Reciclamos. Revivemos. Reinventamos paixões. Sempre à espera de encontrar uma coisa qualquer, a tal da metade cujo sonho nos venderam ou, na falta dela, alguém que seja o mais parecido possível (pode ser que ninguém note a diferença). E para aqui vamos fingindo que somos modernos e independentes, que podemos ter relações umas a seguir às outras e seguir em frente sem sofrer nenhum arranhão. Que podemos continuar todos a ser amigos e a beber copos à esquina como se os sentimentos fossem e viessem ao ritmo das estações do ano, repetidos, idênticos, sem deixar marcas para o ano seguinte. Ironicamente, até as estações do ano agora deitam abaixo os castelos, porque já não há nuvens, só calor e secura fora de época. As sementes não germinam debaixo da terra. Secam e perdem-se para sempre. E eu vou-me apaixonando por coisas, figuras, músicas, filmes, actores e actrizes, músicos e cantores, pessoas que invento, retalhos deste e daquele e de mim para me manter viva e não enlouquecer. Nas histórias que me contavam, as mulheres casavam virgens e era para toda a vida. O almoço e o jantar estavam na mesa a horas certas, a roupa cheirava sempre bem e suportavam-se coisas com um estoicismo quase genético, sem questionar o sentido daquilo tudo. Cresci assim, rodeada de coisas antigas, no meio de um caos sólido e austero contra o qual comecei a revoltar-me muito cedo. Tive sempre vontade de ser livre e independente, acima de qualquer outra coisa. E sou. Livre. Independente. É muito fácil saber-se o que não se quer, difícil é o resto.
9 de novembro de 2009
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2 comentários:
"E a gente então comove-se, e apoia, e ama" essas estórias tuas, em que o que vês não é o que vês mas o que és. Se calhar, até já tenho saudades de te ouvir a cores e ao vivo. Boa caminhada, faça sol ou chuvinha.
Querida Cristina, obrigada pelos teus comentários nestas minhas postas. Também já tenho saudades tuas ao vivo e a cores!!! Este fim-de-semana vou evadir-me temporariamente numa pequena aventura. Quando regressar hei-de dar notícias e mataremos a coisa à roda de um tacho qualquer!
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