6 de setembro de 2009

Regresso (lentamente)

As coisas todas que trago comigo são grandes e crescem, ganham peso, fazem uma sombra cada vez maior a cada dia que passa. E a minha pele continua a tornar-se cada vez mais fina, os órgãos já quase à vista, a alma despida, nuazinha em pêlo, os sentidos alerta, a fazer sentinela, a toparem cada folha a mexer-se como um guerrilheiro na selva, rodeado de ameaças gigantes e desconhecidas. À procura da justificação, da razão deste estar-se num sítio a sobreviver, a olhar por cima do ombro. À procura de saber o que vale a pena, de saber se ter medo vale a pena, sabendo que não se pode simplesmente largar tudo e mudar de lugar. É assim. Foi assim. Aprende-se a caminhar sob as sombras, a entrever a luz como uma bênção, a dar-lhe valor, cada dia de sol uma dádiva. Aprende-se a carregar os pesos que vão crescendo (ainda falta aprender o que fazer com eles). Está-se sempre a caminhar, mas sempre à procura e, suspeito, na direcção errada. Já ninguém se lembra do cheiro nem do sabor da terra. Quanto mais pensamos e mais aprendemos mais nos esquecemos do que é verdadeiramente importante.

2 comentários:

Joana Lobo disse...

Não nos podemos esquecer. Temos que continuar a conseguir sentir o cheiro e o sabor da terra, seja onde for.
Ontem perguntei a uma pessoa se estava triste e a resposta foi:
"Quase"
Não penses muito, querida...ou então, se possível, não penses tanto! :) Não estamos, estamos quase! Que saudades de tanta coisa!

Anita disse...

És uma pessoa e uma amiga muito bonita!