Ontem andei na rua a tirar fotografias e fui à Fnac e comprei CD’s e um livro e vim para casa e deitei-me no sofá e ouvi música, ouvi música, ouvi música. Só assim. Sem mais nada. Há já muito tempo que não fazia nada tão bom. Foi bom dar-me a estes luxos que não deviam ser luxos. Voltei à música de corpo e alma. Hoje, quando regressava a casa e ouvia música no metro, senti um medo terrível de ficar surda. Não pelas palavras dos outros, que essas posso lê-las se for preciso, mas pelo que a música me dá e me faz sentir, ser. Embora saiba que se tivesse de escolher entre música e livros iria ter alguma dificuldade, os sons levam-me de forma mais instantânea, mais inconsciente e, ainda assim, mais epidérmica para lugares também eles mais intensos. Com um simples shuffle no iPod, sei que posso estar triste ou eufórica, ter frio ou calor, estar com quem quiser, onde quiser. Posso estar no meio da cidade, de gabardina e botas, à espera de alguém que não chega, com a chuva a bater-me no rosto e a misturar-se com as minhas lágrimas e três minutos depois fechar os olhos, abrir os braços, deixar o corpo cair para trás, sorrir e ficar deitada num campo de erva alta e macia que só deixa entrever o azul do céu. E vejo coisas muito bonitas na rua (sejam elas tristes ou alegres, porque há beleza nas coisas tristes), nos carros, nas casas, nas árvores, nos rostos das pessoas. Às vezes torna-se difícil conter movimentos involuntários estimulados por alguns ritmos mais contagiantes e evitar aqueles olhares de soslaio que exclamam maluquinha. Não sabem o que perdem...
1 de junho de 2009
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