29 de abril de 2010

Pessoa

Abro muitas vezes o Livro do Desassossego aleatoriamente, porque é assim mesmo, o livro que não é livro e, geminiana desassossegada, encontro-me sempre nestas páginas. Passem os anos que passarem. Há muito tempo que não o abria. Hoje foi assim (e certo como sempre):

"O que tenho sobretudo é cansaço, e aquele desassossego que é gémeo do cansaço quando este não tem outra razão de ser senão o estar sendo. Tenho um receio íntimo dos gestos a esboçar, uma timidez intelectual das palavras a dizer. Tudo me parece antecipadamente frustre.
O insuportável tédio de todas estas caras, alvares de inteligência ou de falta dela, grotescas até à náusea de felizes ou infelizes, horrorosas porque existem, maré separada de coisas vivas que me são alheias..."

Hopefully, just above me, Heaven's watching over me

28 de abril de 2010

Raízes




















































































25 de abril de 2010

25 de Abril

Infelizmente os braços erguidos são cada vez menos, os cravos custam um euro cada, e a malta com o calor tem mais vontade de se juntar para beber cervejas... Será que um dia nos vamos todos esquecer de Abril? E quando morrer a geração destes braços?

13 de abril de 2010

Crise de identidade

Pergunto-me se é possível ser-se cristão e trabalhar num banco. Se é possível ser-se de esquerda e trabalhar num banco. Se é possível ser-se honesto e trabalhar num banco. Se é possível ser-se inteligente e trabalhar num banco. Se é possível ser-se feliz e trabalhar num banco. E respondo-me que só é, se não se pretender ser pelo menos duas destas coisas em simultâneo.

Lisbondres

Hoje no metro, na estação do Marquês, ouvi pela primeira vez a voz de uma senhora repetir "atenção à distância entre o cais e o comboio", que é como quem diz "mind the gap" em português. Depois às duas da tarde ia morrendo assada nos Restauradores e às cinco já chovia e fazia frio pela cidade toda. Pareceu-me que tinha trazido um bocado de Londres agarrado às solas dos sapatos.

Londres

Passei dez dias das últimas semanas em Londres e já pensei que devia ter escrito algo maravilhoso sobre o assunto para pôr aqui. Como se fosse uma obrigação. Adorei verdadeiramente a cidade. Tenho trinta e um anos, nunca tinha ido a Londres e cheguei com a alma muito cheia de coisas boas. Mas coisas que me parecem tão boas que só alguém tão bom como elas poderia escrever algo decente sobre o assunto. Além disso a Primavera deprime-me e baralha-me. Penso em milhões de coisas ao mesmo tempo e sonho acordada mas parece tudo muito pouco coerente, tudo fragmentado, estilhaços criativos que não consigo colar para fazer nada. E depois há a depressão sazonal e a tensão pré menstrual e o regresso ao trabalho (que saudades do regresso às aulas...) e a casa para arrumar e mais uma dúzia de boas desculpas para não ter de me obrigar a mais nada. Muito menos a escrever. Assim, para não ficar com a consciência totalmente pesada, posso simplesmente dizer que, entre muitas outras coisas de que gostei muito, vi isto, e isto e isto e isto e ainda isto e isto e podia continuar mas fico-me com apenas mais isto. Valeu tudo muito, muito a pena. E cresci.