Lentamente, faço as pazes com a cidade que me adoptou. Começo a levar-me menos a sério e, por isso, a deixar-me levar pela vida. Encontro uma muito ansiada espécie de paz. O sol já não me cansa da mesma maneira, embora o meu corpo mole anseie a frescura do Outono, se não mesmo o frio do Inverno. Agora já me apetece outra vez ler romances tristes e profundos, com cenários bucólicos e personagens silenciosos e distantes. As suas dores já não me agridem e já não preciso do calor dos outros para me esquecer de mim. Um dia ainda hei-de perceber porque é que, ao contrário de quase toda a gente, me sinto feliz com a proximidade do Outono. Porque é que só tenho forças para me enfrentar quando a natureza começa a morrer devagarinho e anoitece cada vez mais cedo. Se eu não tivesse feito as pazes com esta cidade, tentava emigrar para uma terra fria com neve e com alces. Ainda um dia hei-de ansiar o Verão como quem deseja uma boca quente e húmida para beijar.
14 de setembro de 2010
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